O governo dos Estados Unidos deve aceitar um avião de luxo da família real do Catar, que será adaptado e usado como aeronave presidencial durante o segundo mandato do presidente Donald Trump, disseram à CNN duas pessoas familiarizadas com o acordo.
A notícia chega um dia antes de Trump embarcar para sua primeira grande viagem ao exterior, que inclui uma parada em Doha, no Catar.
Dado o enorme valor de um Boeing 747-8, a medida é inédita e levanta questões éticas e legais.
Uma autoridade do Catar afirmou que o avião está sendo tecnicamente doado pelo Ministério da Defesa do Catar ao Pentágono, descrevendo-o mais como uma transação entre governos do que como uma transação pessoal.
O Departamento de Defesa então adaptará o avião para uso do presidente, com recursos de segurança e modificações.
O plano é que o avião seja doado à biblioteca presidencial de Trump após sua saída do cargo, garantindo que ele possa continuar a usá-lo, de acordo com uma pessoa familiarizada com o assunto.
“Relatos de que um jato está sendo presenteado pelo Catar ao governo dos Estados Unidos durante a próxima visita do presidente Trump são imprecisos”, disse Ali Al-Ansari, adido de imprensa do Catar nos EUA.
“A possível transferência de uma aeronave para uso temporário como Air Force One [avião da Presidência dos EUA] está atualmente sendo considerada entre o Ministério da Defesa do Catar e o Departamento de Defesa dos EUA, mas o assunto permanece sob análise pelos respectivos departamentos jurídicos e nenhuma decisão foi tomada”, adicionou.
A ABC News foi a primeira a noticiar a possibilidade da entrega novo avião.
“Pesadelo de segurança”, avalia fonte
No Serviço Secreto dos EUA, a possível doação de um avião por um governo estrangeiro para uso presidencial está sendo vista como um “pesadelo de segurança”, disse uma fonte à CNN.
“A [Força Aérea dos EUA] teria que desmontá-lo em busca de equipamentos de vigilância e inspecionar a integridade do avião”, destacou a fonte.
Trump e assessores visitaram o avião no início deste ano no aeroporto de Palm Beach, Flórida, e a expectativa é que ele esteja em operação dentro de dois anos, pontuou uma fonte à CNN.
Após essa visita, Trump se gabou para as pessoas ao seu redor sobre o luxo do avião.
“O presidente Trump está visitando um novo avião da Boeing para conferir o novo hardware/tecnologia”, comentou o diretor de comunicações da Casa Branca, Steven Cheung, em um comunicado na época.
Problemas com o Air Force One da Boeing
A Boeing vem trabalhando na reforma de dois jatos 747 para transformá-los em aeronaves presidenciais de última geração, mas o processo tem sido prejudicado por atrasos.
Os aviões estavam programados para serem entregues até 2022 e agora não devem chegar antes de 2027.
Cheung argumentou no início deste ano que a visita de Trump ao avião em Palm Beach “destaca o fracasso do projeto em entregar um novo Air Force One no prazo prometido, já que eles estão 5 anos atrasados”.

O contrato de US$ 3,9 bilhões da Boeing para substituir os dois jatos presidenciais dos EUA, conhecidos como Air Force One (Força Aérea Um), tornou-se um fardo caro e constrangedor.
A empresa já reportou prejuízos totalizando US$ 2,5 bilhões com o programa, conhecido como VC-25B, desde que concordou em ser responsável pelo que se tornou um aumento exorbitante nos custos.
Os dois jatos atualmente em uso, que têm as letras de código VC-25A e levam a designação Air Force One quando o presidente está a bordo, estão em serviço há quase 35 anos, desde o mandato do presidente George H.W. Bush.
Substituir os aviões tem sido uma prioridade para Trump, que está profundamente frustrado com os atrasos.
“Não estou satisfeito com o fato de ter demorado tanto. Não há desculpa para isso”, ressaltou Trump a repórteres a bordo do Air Force One em fevereiro.
Ele disse que não recorreria à rival europeia da Boeing, a Airbus, mas consideraria comprar um 747 usado e contratar outra empresa para reformá-lo e usá-lo como Air Force One.
Desafio para transformar avião em aeronave presidencial
O desafio não é o jato básico, mas o que é preciso para transformar um Boeing 747 comum em um posto de comando e comunicações, avaliou Richard Aboulafia, diretor administrativo da AeroDynamic Advisory, empresa de consultoria aeroespacial, à CNN.
Eles devem ser capazes de proteger seus ocupantes de ataques de mísseis ou até mesmo das ondas de choque de uma explosão nuclear.
“Você pode ter um jato a qualquer hora, mas dá muito trabalho ter comunicações criptografadas e gerenciar as Forças Armadas e o governo federal de qualquer lugar do mundo, em qualquer circunstância”, sustentou.
*Betsy Klein, Kylie Atwood, Chris Isidore e Josh Campbell, da CNN, contribuíram para esta reportagem