O Brasil e a China têm se aproximado e estreitado laços comerciais no momento em que escala a guerra comercial entre Pequim e Washington.Diversas sinalizações nesse sentido foram dadas nos últimos meses. Algumas antecedem a disputa tarifária promovida por Donald Trump.De janeiro a março, a corrente de comércio entre Brasil e China bateu recorde para o período e ultrapassou os US$ 38,8 bilhões, com US$ 19,8 bilhões em exportações brasileiras e US$ 19 bilhões em importações.As importações brasileiras vindas da China aumentaram 35% no primeiro trimestre. Um dos principais responsáveis por esse salto foi o grupo “Plataformas, embarcações e outras estruturas flutuantes”, que, sozinho, movimentou US$ 2,7 bilhões – valor significativamente superior aos cerca de US$ 4 milhões registrados em 2024.O Brasil não comprava plataformas de perfuração da China desde 2020, segundo dados do Comex Stat, portal oficial do governo brasileiro que disponibiliza dados detalhados sobre as exportações e importações do paísNa última sexta-feira (18), os Estados Unidos anunciaram novas tarifas portuárias sobre navios chineses, alegando a necessidade de reativar a indústria naval americana frente ao domínio chinês no setor.No setor do agronegócio, o governo brasileiro já reconhece oficialmente que a disputa comercial entre China e EUA pode abrir novas oportunidades. O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, afirmou que a tensão entre os dois países têm acelerado algumas negociações com Pequim.“Há sim a expectativa de ampliação dos negócios com a China”, disse Fávaro, na última quinta-feira (17).Na última semana, representantes do ministério da Agricultura da China estiveram no Brasil e se reuniram com autoridades brasileiras. No próximo dia 22, o ministério da Agricultura do Brasil se reúne com integrantes do GACC, o departamento alfandegário chinês, responsável pelas regras de importação.O principal objetivo do governo brasileiro nessas reuniões é reduzir a burocracia nos processos de aprovação de importação de produtos biotecnológicos, como sementes geneticamente modificadas e alimentos com edição gênica.O Brasil também está enviando seu alto escalão para a China. Como parte da preparação para a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a Pequim, prevista para maio, uma comitiva brasileira já está em solo chinês para abrir caminho nas negociações e organizar os encontros bilaterais.O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, já desembarcou no país asiático. O ministro da Casa Civil, Rui Costa, deve chegar em Pequim no fim de abril – algumas semanas antes da chegada de Lula.Outra novidade aconteceu no setor portuário. Na última quinta-feira, foi inaugurada uma nova rota marítima direta entre a China e o Brasil.A nova rota liga o Porto de Gaolan, na cidade de Zhuhai, e os portos brasileiros de Santana (AP) e Salvador (BA).Segundo o ministério de Portos e Aeroportos, o novo corredor marítimo atende diretamente zonas estratégicas de produção agrícola e mineral.Brics fortalecidoOutro movimento com potencial de incomodar os Estados Unidos ocorreu em Brasília, na última quinta-feira, durante a principal reunião do Grupo de Trabalho de Agricultura do Brics.Os países do Brics declararam apoio formal à proposta da Rússia de criar uma “Bolsa de Grãos do Brics”, iniciativa que tem como objetivo facilitar o comércio agrícola entre os membros do bloco e reduzir a dependência do dólar nas transações internacionais.A justificativa é que a nova bolsa funcionaria como uma alternativa às tradicionais CBOT (Chicago Board of Trade) e KCBT (Kansas City Board of Trade), duas das principais referências no comércio de commodities agrícolas, ambas sediadas nos Estados Unidos.A declaração conjunta também prevê o fortalecimento da cooperação entre os países do bloco em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), com foco na inovação e na fabricação de maquinários adaptados às realidades locais.Abertura comercial reduz impacto de tarifas de Trump no Brasil? Entenda
Com Trump subindo o tom, Brasil e China aceleram negócios
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