O presidente-executivo da Nvidia, Jensen Huang, saiu de Taipé nesta sexta-feira (23) depois de uma semana se deleitando com a adoração do setor de tecnologia de Taiwan à sua figura e depois de entregar uma mensagem sutil, mas importante, de que a líder dos chips de inteligência artificial vai manter sua posição.Enquanto o culto em torno da imagem do executivo, que até recebeu o nome de “Jensanity”, girou em torno de Huang na feira de tecnologia Computex, a própria Nvidia estava em uma encruzilhada.Tendo crescido e se tornado a empresa de chips mais valiosa do mundo, os investidores temem uma queda nos gastos com infraestrutura de inteligência artificial, bem como danos às vendas decorrentes de atritos comerciais com os EUA.As restrições impostas pelos EUA às exportações de alta tecnologia fizeram com que a Nvidia perdesse participação no mercado chinês. Além disso, gigantes da computação em nuvem, como a Microsoft e o Google sinalizaram cortes nos gastos com IA.E embora Huang, de 62 anos, tenha anunciado no mês passado negócios no valor de centenas de bilhões de dólares em regiões como o Golfo Pérsico, analistas dizem que esses acordos provavelmente não vão se repetir.“Será que todos os países vão anunciar um data center de US$ 10 bilhões ou US$ 50 bilhões como os sauditas? É claro que não”, disse Jay Goldberg, analista da Seaport Research. “Eles estão meio que ficando sem negócios óbvios.”Quando perguntado pela Reuters sobre como a Nvidia planeja lidar com a desaceleração dos gastos com IA, Huang disse: “A infraestrutura de IA está sendo construída (em todos os lugares) – essa é uma das razões pelas quais estou viajando pelo mundo… A infraestrutura de IA fará parte da sociedade.”NOVO CRESCIMENTONa Computex, Huang revelou um meio de crescimento que não depende de mega acordos soberanos de infraestrutura: uma nova tecnologia que expande o controle da Nvidia sobre o mercado de IA.A peça central dessa tecnologia é chamada NVLink Fusion. Ela permite que as empresas conectem chips personalizados à infraestrutura de IA da Nvidia, tornando-se assim uma plataforma sobre a qual outros podem construir.“Em vez de ter que construir todo o rack de equipamentos, as empresas podem inovar ou se diferenciar no próprio chip personalizado”, disse Nick Kucharewski, vice-presidente da Marvell Technology.A aposta é que atrair as empresas para a criação de hardware que utilize a plataforma Fusion da Nvidia impulsionará a demanda por rede de IA e pelas componentes de data center que a Nvidia vende.A Nvidia também começou a entrar no mercado corporativo. Esta semana, a companhia lançou uma linha de servidores que Huang descreveu como um “supercomputador de IA empresarial”.O argumento de Huang foi que os servidores abrem um mercado multibilionário porque os clientes podem usá-los para “tudo”, como gráficos, máquinas virtuais e aplicativos de IA.O mercado corporativo é grande, mas difícil de entrar, disse Goldberg, da Seaport Research. Os negócios tendem a ser pequenos – em comparação com um data center soberano – e mais caros e demorados para serem conquistados. “Minha impressão é que estamos esbarrando nos limites da expansão da base de clientes”, disse Goldberg.ECOSSISTEMA DE TAIWANA Nvidia trabalha com alguns dos maiores nomes da tecnologia de Taiwan, como a Taiwan Semiconductor Manufacturing Co, que fabrica boa parte de seus chips. Entretanto, a infraestrutura da IA não seria possível sem as centenas de empresas taiwanesas, grandes e pequenas, que fornecem os componentes e o know-how de fabricação necessários para produção dos complexos sistemas de IA da Nvidia.“O objetivo da Computex era reunir o ecossistema e a cadeia de suprimentos”, disse Ian Cutress, analista-chefe da consultoria More Than Moore. Essa rede é necessária para dar suporte aos negócios anunciados no Golfo e que provavelmente serão feitos em outras partes do mundo nos próximos meses, disse Cutress.O setor taiwanês abraçou Huang, que é visto como um herói nascido no local, vindo da histórica capital de Taiwan, Tainan, antes de migrar para os EUA quando tinha nove anos de idade.Quando deixou o país de avião nesta sexta-feira, Huang já havia aparecido no palco ou em banquetes com quase todos os executivos de tecnologia proeminentes de Taiwan, incluindo o presidente Young Liu, da Foxconn, fabricante de servidores de IA, que o chamou de “líder da equipe de Taiwan”.O presidente-executivo da MediaTek, Rick Tsai, deu a Huang pedaços de goiaba em um saco plástico da barraca de frutas preferida do líder da Nvidia em Taipé durante um dos eventos do fabricante de chips.A Solomon Technology, fornecedora de soluções de automação industrial e inspeção baseada em IA que usa as ferramentas de software da Nvidia, disse que trabalhar com a Nvidia é uma situação em que todos saem ganhando.As ações da Solomon subiram 241% desde que Huang mencionou a empresa na Conferência de Tecnologia de GPU da Nvidia em março do ano passado.“A colaboração com a Nvidia nos deu maior visibilidade. Não éramos muito conhecidos antes, mas com o apoio da Nvidia, muito mais pessoas nos conhecem agora”, disse o presidente da Solomon, Johnny Chen.Cadeirinha infantil: regras restringem alcance da proteção
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