O psicólogo social Jonathan Haidt, autor do livro “A Geração Ansiosa”, avalia que a agenda do uso das redes sociais por crianças e adolescentes é uma das pautas que conseguem superar a polarização política vista em países como os Estados Unidos, onde o pesquisador nasceu e cria dois filhos, e o Brasil, no qual vai participar de uma série de palestras a respeito do tema.“Como você sabe, meu país está muito polarizado, e sei que o Brasil também está [dividido] entre esquerda e direita. Mas, no fim, todos têm filhos”, diz Haidt, que participou do CNN Entrevistas desta semana. “Republicanos têm filhos, democratas têm filhos, apoiadores do Lula têm filhos, apoiadores do Bolsonaro têm filhos.”Para Haidt, crianças e adolescentes têm feito uso precoce e excessivo de dispositivos como celulares e tablets, além do acesso a redes como Instagram, TikTok e YouTube. Isso elevou significativamente os casos de depressão, ansiedade e suicídio nessas faixas etárias, conforme os estudos conduzidos pelo psicólogo abordados em “A Geração Ansiosa”.“Todo mundo criando filhos na era moderna está enfrentando este problema: esses dispositivos foram feitos para viciar crianças, eles estão prejudicando a saúde mental em escala global, centenas de milhões de crianças”, aponta Haidt. Nunca tinha ocorrido de todos os pais do mundo terem algo em comum em relação a uma ameaça ou problema. A infância costumava ser muito diferente em cada país. Jonathan Haidt, psicólogo social Haidt defende quatro medidas a serem tomadas pela sociedade – não necessariamente por governos – para lidar com o problema:Nada de smartphones até 14 anos;Acesso a redes sociais só após os 16 anos;Escolas sem celulares;Mais independência, brincar de forma autônoma e maior responsabilidade para as crianças.A primeira e a quarta “regra”, explica Haidt, são normas sociais, e não estatais. Em outras palavras, são medidas que os próprios pais, as famílias de um bairro ou de uma escola deveriam pactuar entre si. Nos itens 2 e 3, aí sim, o psicólogo diz ser “preciso ajuda do governo”.Brasil e Austrália como exemplosHaidt cita leis aprovadas por Austrália e Brasil como bons exemplos nesse sentido. Aqui, o psicólogo elogia a legislação que entrou em vigor neste ano e proíbe o uso de celulares durante as aulas e os intervalos de escolas públicas e privadas. “É uma legislação essencial. O Brasil, acredito, é o maior país até agora a implementar isso. Estou feliz que o Brasil tenha feito isso.”No caso australiano, foi criada uma legislação que elevou a 16 anos a idade mínima para abrir contas em redes sociais, mas impôs a exigência de que as plataformas verifiquem que a informação é verdadeira.“Você declara que tem 16 anos, e as empresas devem verificar. Pela primeira vez, as empresas vão assumir alguma responsabilidade pelos transtornos e danos que estão causando”, diz Haidt. “Espero que no Brasil vocês pensem numa legislação semelhante. Vários países estão pensando em seguir o exemplo da Austrália.”O psicólogo norte-americano vai debater a relação entre crianças e jovens e as redes sociais, nesta segunda-feira (19), no Fronteiras do Pensamento, em São Paulo, com ingressos esgotados. Além de Jonathan Haidt, o Fronteiras do Pensamento vai receber a escritora Chimamanda Ngozi Adichie e o neurocientista António Damásio. A CNN Brasil é media partner do evento.Usar celular em excesso pode adicionar até 27 kg à coluna
País está polarizado, mas todos têm filhos, diz Jonathan Haidt à CNN
4